Fita mostra deputado e vereador pedindo votos em troca de tratamento dentário
Uma fita de vídeo que está em poder do Ministério Público Federal no Amazonas mostra um deputado estadual e um vereador do PMDB supostamente pedindo votos em troca de tratamento dentário a pacientes de uma clínica particular de Manaus.
Na fita, divulgada hoje no site do jornal 'Correio Amazonense', estão o deputado estadual Nelson Azêdo (PMDB), que é dentista e pré-candidato à reeleição, e o vereador Ari Moutinho (PMDB), pré-candidato a deputado federal.
Eles aparecem pedindo votos, inclusive para ajudar a reeleger o atual governador da legenda, Eduardo Braga, e o senador Gilberto Mestrinho, presidente regional do PMDB.
'A chapa é Eduardo, Gilberto, Ari e Nelson. Essa é a chapa completa. Impreterivelmente, se o Nelson perder a eleição, praticamente acabou a Prodent', afirma o deputado Azêdo na fita, cujo conteúdo está disponível no site www.correioam.com.br/videos.
As pessoas que aparecem na fita são pacientes da clínica Fundação Prodent, de propriedade de Nelson Azêdo. A gravação da fita, que foi divulgada hoje pelo jornal local, teria sido feita nos dias 4 e 5 deste mês, sem conhecimento dos parlamentares.
Para ingressar na clínica os pacientes apresentam comprovante de moradia e título de eleitor. Além da Prodent, Azêdo tem outra clínica, em Itacoatiara (170 km leste de Manaus). Na fita, o deputado Azêdo diz que seu gabinete paga 45 dentistas, dos 57 da Prodent, com recursos de R$ 50 mil.
Aos pacientes da Prodent, o vereador Ari Moutinho pediu a 'oportunidade de ser o [candidato deles] deputado federal', com o argumento de que vai melhorar os serviços prestados pela clínica.
'Sem vocês isso aqui [a clínica Prodent] vai parar, mas se vocês estiverem do nosso lado (...), conseguiremos levar a Prodent, né Nelson, sorrindo para Manaus e sorrindo para essa Amazônia', afirmou Moutinho, que é ex-secretário estadual da Casa Civil. Em 2004, ele foi indiciado pela Operação Albatroz da Polícia Federal por suposto envolvimento em fraudes de licitações.
Para o procurador federal eleitoral Ageu Florêncio da Costa, o uso de verba de gabinete para pagamentos de dentistas caracteriza desvio de verba pública e tipifica ato de improbidade administrativa. 'Os parlamentares estão sujeitos a processos de quebra de decoro parlamentar e à cassação dos mandatos', disse.
Procurador pela Folha, o senador Gilberto Mestrinho estranhou o pedido de votos para sua pré-candidatura à reeleição. 'Geralmente, o pessoal do Amazonas omite meu nome. Esse caso é de cunha eleitoral. Tem que ser investigado pela Justiça, e não pelo partido', afirmou o senador.
Por meio de sua assessoria o governador Eduardo Braga disse que não se posicionaria. O vereador Ari Moutinho foi procurado por quatro vezes pela reportagem. Na quarta vez, a assessoria disse que ele não comentaria.
O deputado estadual Nelson Azêdo negou as denúncias. No plenário da Assembléia Legislativa, ao discursar, o parlamentar disse: 'Político não é freira. Onde ele estiver vai pedir voto. Mas nesse caso não pedi diretamente para ninguém'.
O deputado Eron Bezerra (PC do B-AM), da Comissão de Ética da Assembléia Legislativa, disse que o deputado Azêdo terá dez dias para se defender das acusações, conforme decisão da mesa diretora da Casa.