ALBERTO CARLOS ALMEIDA: “No Brasil, o candidato deve fazer campanha para todo o eleitorado não para um grupo”

O professor Alberto Carlos Almeida proferiu palestra nesta segunda-feira (3) sobre pesquisa de opinião. Na ocasião concedeu entrevista à editoria do Portal Interlegis


Professor de Ciência Política da Fundação Getulio Vargas e da Universidade Federal Fluminense, Alberto Carlos Almeida é autor dos livros, Como são feitas as pesquisas eleitorais e de opinião (Ed. FGV, 2002); Presidencialismo, parlamentarismo e crise política no Brasil (Ed. UFF, 1998) e A qualidade de vida no Estado do Rio de Janeiro (Ed. UFF, 1997), além de ter vários artigos científicos publicados em revistas especializadas. Doutor em Ciências Políticas, metodólogo e sociólogo, Almeida tem larga experiência na análise de dados de pesquisas de opinião e de mercado, assim como na coordenação de projetos dessa natureza. Já realizou pesquisas para instituições públicas e privadas, como o Bradesco Seguros, Fundação Ford, Jornal do Brasil, governos estaduais, prefeituras e partidos políticos. É também ex-pesquisador da The London School of Economics. Nesta segunda-feira (03), o professor realizou palestra no auditório do Interlegis, dentro do Ciclo de Conferências promovido pela Universidade do Legislativo – Unilegis, e falou das características do eleitorado brasileiro e da importância das pesquisas numa campanha eleitoral.

 

Portal Interlegis: O Brasil tem acompanhado o mercado internacional de pesquisas eleitorais, as novas tecnologias?

 

Alberto Carlos – O Brasil não deixa a desejar em termos de tecnologia. O mais importante mesmo é a análise. Tipos de questionários, amostras, trabalho de campo já existem modelos. É da competência na análise que vai depender a qualidade da pesquisa.

 

PI – Qual a diferença entre intenção qualitativa e quantitativa de voto? Qual delas o sr. considera mais importante?

 

AC - A resposta para essa pergunta vai depender muito de quem responde. Os publicitários gostam mais da qualitativa, eu prefiro a quantitativa porque dá os percentuais, o resultado é estatístico. Na qualitativa a resposta é por meio de argumentos, ou seja, a pesquisa qualitativa é exploratória, descobre os argumentos, a quantitativa é utilizada para medir esses argumentos junto à opinião pública.

 

PI – Existe um número ideal de pesquisas que devem ser feitas em cada campanha? E quanto tempo entre cada uma?

 

AC – Isso depende. O ideal é que seja feita uma grande pesquisa no início, em julho, no mais tardar. Para candidatos proporcionais só vale a pena se o eleitorado desse candidato é concentrado, se o candidato tem um eleitorado pulverizado é um pouco mais complicado. A pesquisa inicial serve para definir estratégias de campanha. No mínimo, 3 ou 4 pesquisas ao longo da campanha para avaliar o desempenho do candidato.

 

PI - Quais são os fatores que influenciam uma pesquisa? Diferenças regionais, cultura, nível social?

 

AC – No Brasil, não tem muita diferença, elas aparecem um pouco apenas entre classes sociais ou nível de escolaridade. As intenções são muito homogêneas dentro de grupos sociais, gênero ou faixa de idade. Só muda um pouco por região ou classe social, mas não são de forma alguma mudanças acentuadas, de um modo geral. Isso traz um dado muito importante: No Brasil o candidato deve fazer campanha para todo o eleitorado não para um grupo.

 

PI – O que mais interfere na intenção de voto: a crença no candidato ou o conhecimento do trabalho desenvolvido por ele?

 

AC – É importante o nível de satisfação do eleitorado com a sua vida naquele momento. Em situação de insatisfação e se essa insatisfação é atribuída ao governo, a tendência é que o eleitor vote contra o governo. Qual o tema do momento que a prefeitura leva em conta, se o candidato tem um perfil realizador, de construtor de obras, se ele tem um viés mais social. O momento pode definir a eleição. Atualmente, por exemplo, acesso aos bens se tornou um bom resultado das ações do governo.

 

PI – A pesquisa possibilita o diagnóstico sobre o momento e deve direcionar a estratégia de comunicação de uma campanha política?

 

AC – Sem dúvida, o trabalho deve ser feito em conjunto.