Bactéria “do bem” poderá substituir uso de fertilizantes industrializados na cultura da cana-de-açúcar
Depois de cinco anos de pesquisas, cientistas brasileiros terminaram o seqüenciamento do código genético da bactéria Gluconacetobacter diazotrophicus, responsável pela fixação biológica de nitrogênio da cana-de-açúcar.
Com isso, a estimativa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é reduzir em até 30% da quantidade de fertilizantes nitrogenados aplicados em toda área de cana-de-açúcar no país. A economia poderá chegar a R$ 59 milhões anuais para essa cultura, além de trazer benefícios ao meio ambiente.
A bactéria, conhecida pelos cientistas como “bactéria do bem”, está presente em culturas como a cana-de-açúcar, batata-doce, abacaxi e capim elefante. Ela é essencial para o crescimento das espécies vegetais, porque é uma das principais responsáveis pelo processo denominado “fixação biológica de nitrogênio”, em que o elemento é retirado da atmosfera e transferido para as plantas. A bactéria também produz hormônios vegetais e aumenta o sistema de raízes, ampliando a absorção de nutrientes do solo.
“Ao fixar onitrogênio atmosférico, você deixa de ter que aplicar parte do adubo nitrogenado que a planta necessitaria. A gente faz cálculos que mostram que essa bactéria poderia ter um ganho adicional de R$ 30 a R$ 50 milhões por ano com o uso dessa bactéria na cultura da cana-de-açúcar”, explica o pesquisador da Embrapa Agrobiologia, José Ivo Baldani.
Segundo ele, num prazo de cinco anos será possível desenvolver um produto para ser injetado nas plantações de cana-de-açúcar. O pesquisador também afirma que a tecnologia poderá ser expandida para outras culturas, como trigo, milho, sorgo, arroz, entre outras.
A redução do uso de fertilizantes industrializados, segundo Baldani, também
irá favorecer o meio ambiente, já que o produto feito com a bactéria não sai da
planta.
“Quando a gente fala na redução do uso de fertilizantes
nitrogenados a gente está contribuindo também para um ambiente mais limpo,
porque quando se aplica esse tipo de fertilizante (industrializado) parte dele
não é absorvido pelas plantas e é desviado para os lençóis freáticos,
contaminando rios e lagos”.
O projeto foi iniciado em 2001 e contou com a
participação da Embrapa Agrobiologia e de universidades. Os recursos que
apoiaram o projeto vieram da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa
do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), que disponibilizou R$ 3,4 milhões, e do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que
investiu R$ 1,4 milhão.