COMUNIDADE - Seminário discute desestímulo à atividade política

Veja na matéria da Agência Senado os debates do último dia do seminário Desafios do Poder Legislativo

Muitos parlamentares influentes estão desistindo de concorrer a qualquer cargo político. O fenômeno foi tema de debates na manhã desta terça-feira (22), no último dia do Seminário Desafios do Poder Legislativo.

O jornalista e diretor do Departamento Intersindical de Assuntos Parlamentares (Diap), Antônio Augusto de Queiroz, disse que o desestímulo ao ingresso ou à permanência na atividade política se deve, principalmente, a três fatores: o alto custo das campanhas e das imagens negativas a que são expostos, o desgaste físico e emocional a que são submetidos e a dependência dos respectivos líderes.

Segundo o diretor do Diap, se essa situação continuar, em breve a atuação parlamentar ficará restrita a pessoas provincianas, detentores de máquinas governamentais ou de corporações, bem como a parentes de políticos conhecidos.

Tradição democrática

Declarando-se um "inconformado com o que se passa na política brasileira", o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) explicou que parte do problema reside no fato de não haver no Brasil uma tradição em política democrática, devido às ditaduras pela qual o país passou.

- Não temos realmente a possibilidade de tomar a história como exemplo, a não ser para evitar a repetição de erros ou para tentar melhorar - afirmou Miro Teixeira, que está no décimo mandato como deputado.

O deputado explicou que a crise do Parlamento é mundial, mas observou que, no Brasil, quando se fala em política, "fala-se em reforma".

- Precisamos de uma revolução política no Brasil - afirmou o parlamentar, que conclamou a todos os participantes do seminário a iniciarem essa revolução.

Poder

Uma análise teórica e empírica sobre o poder dentro do Parlamento foi feita por dois doutores em Sociologia e Ciência Política.

Débora Messenberg, pós-doutora em Sociologia e professora da Universidade de Brasília (UnB), abordou parte dos resultados de uma pesquisa ainda em andamento sobre a existência do "baixo e alto clero" no Parlamento.

Ela explicou que vários são os critérios para se classificar um parlamentar como parte do alto clero, entre os quais estão: pertencimento a uma família com tradição política, ocupação de importantes cargos públicos ou corporativistas ou mesmo destaque em determinada área de conhecimento.

- No Brasil, esse capital político é uma combinação de capital cultural, econômico e social - explicou Débora.

Ao discorrer sobre a estrutura de oportunidades políticas no Brasil, o doutor em Ciência Política e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Fabiano Santos, afirmou que muitos deputados se elegem sem compromisso com a Câmara e sem pretensão de investir na Casa, porque já visam outros cargos de maior poder e prestígio.

- Isso acaba redundando num amadorismo legislativo - criticou Santos.

Por outro lado, segundo Santos, há também os parlamentares que desenvolvem um bom trabalho no Legislativo e, portanto, são reconhecidos e lembrados por isso.

Seminário

O Seminário teve início na segunda (21), com a realização de dois debates. Pela manhã, o tema discutido foi "Sistema Eleitoral e partidário e representação política". À tarde, a segunda mesa abordou a "Função Fiscalizatória do Legislativo e qualidade da democracia".

Nesta terça, "Carreira parlamentar" foi o assunto debatido pela manhã. À tarde, na última Mesa, o tema será "Cultura cívica e política".

Veja a programação do Seminário aqui.

Valéria Castanho / Agência Senado