SENADO - Especialistas internacionais debatem terapias para usuários de crack

Audiência pública debateu tratamentos mais eficazes e a necessidade de políticas públicas integradas para atacar o problema. Veja na matéria da Agência Senado:

O tratamento dos usuários de crack, muitas vezes marginalizados socialmente, não pode ser o mesmo dos usuários de cocaína, que não raro possuem uma melhor condição socioeconômica - já que a cocaína é mais cara. Essa foi uma das observações feitas por Bo Mathiasen, representante do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) para o Brasil e o Cone Sul, na audiência pública realizada pelo Senado nesta terça-feira (17). Ele também lembrou que há estudos sobre uma possível vacina para as duas drogas - mas sem previsão de lançamento.

Essa audiência faz parte do ciclo de debates que vem sendo promovido pela Subcomissão do Senado sobre Políticas Sociais para Dependentes Químicos de Álcool, Crack e Outras Drogas. O avanço do crack, droga derivada da cocaína, está entre os principais temas discutidos pela subcomissão.

Ao reiterar que a marginalização social dos usuários de crack "é um dos aspectos que torna seu tratamento um desafio", Mathiasen frisou que, "entre eles, é mais forte o rompimento dos vínculos e das relações sociais".

Já a maioria dos usuários de cocaína, quando comparados aos de crack, "vivem em contexto socioeconômico melhor, têm à sua disposição uma estrutura mais 'confortável' e, por isso, apresentam uma resistência maior à dependência".

- Atualmente, as formas de tratamento mais promissoras no caso do crack são o aconselhamento e a terapia psicossocial - disse ele, acrescentando que "os tratamentos farmacológicos mostram algum resultado, mas ainda deixam a desejar".

Mathiasen destacou ainda a importância da terapia familiar, da terapia cognitiva comportamental, da entrevista motivacional e "prevenção da recaída".

Ele observou que, além da "segregação socioeconômica" provocada pela diferença de preço, "a cocaína é consumida geralmente em uma situação de convívio social, como uma festa ou em uma boate, enquanto o crack tem efeitos tão intensos que a pessoa se fecha e não interage com os outros ao consumi-lo".

Vacina

O representante da UNODC também lembrou que existem pesquisas sobre uma possível vacina para a cocaína e o crack. Segundo ele, a vacina neutralizaria os efeitos dessas substâncias e talvez possa ser utilizada, inclusive, de forma preventiva ("antes mesmo que se tenha contato com tais drogas").

- Já estão sendo realizados testes nos Estados Unidos e na Europa, mas não é possível afirmar quando ela ficará pronta - ressaltou.

Apesar de se mostrar otimista com as pesquisas, Mathiasen frisou que o desenvolvimento da vacina implica questões éticas, como o eventual consentimento do paciente com o tratamento e a obrigatoriedade ou não da vacinação de indivíduos considerados de "maior risco".

- Como definir esse critério de "maior risco"? Quem decidiria quais são as situações de "maior risco"? - questionou ele.

Bernardino Vitoy, representante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), defendeu a ampliação da rede de assistência aos usuários de drogas, como é o caso dos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), "que funcionam com porta de entrada para o tratamento desses dependentes". Ele também sugeriu a criação de casas de acolhimento transitório, nas quais os pacientes possam ser abrigados durante o tratamento. Bernardino enfatizou ainda a necessidade de que as políticas públicas destinadas ao combate às drogas estejam articuladas com outras, como às destinadas à educação.

A audiência desta terça-feira foi conduzida pelos senadores Wellington Dias (PT-PI) e Ana Amélia (PP-RS), respectivamente presidente e vice-presidente da subcomissão.

Ricardo Koiti Koshimizu / Agência Senado