Texto: Liana Furini
O Painel "A inserção profissional de jovens no mercado de trabalho via tecnologia" foi promovido pelo Ministério do Trabalho na manhã deste sábado (16) no FISL17 e discutiu o possível surgimento de uma nova Política Pública Nacional que trate da inserção do Jovem Aprendiz no mercado de trabalho pela porta da Tecnologia.
Sady Jacques, Coordenador Geral da Associação Software Livre e do FISL, abriu as formalidades, direcionando à fala do ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, e do diretor da Faculdade de Informática da PUCRS, Fernando Luís Dotti.
Segundo o ministro, "a grandeza de uma nação reside no número de cidadãos com amplo conhecimento do mundo tecnológico". Ele reforçou a importância de um evento como o FISL. O diretor da FACIN, Professor Dotti, explica que, no Rio Grande do Sul, agradecemos quando a meteorologia vai bem e temos uma boa safra, mas que isso não precisa ser assim, se tivermos uma base tecnológica eficaz de controle.
Higino Vieira, Diretor do Departamento de Políticas de Trabalho e Emprego para a Juventude do Ministério do Trabalho, comandou o debate. Ele diz que quando falamos do aprendiz no mercado de trabalho, falamos de jovens de 14 a 24 anos, matriculados e frequentando o ensino regular. Ele explica que todas as empresas de Médio e Grande porte precisam, por lei, compor seu quadro funcional com 5 a 15% de menores aprendizes. Em 2015, haviam 400 mil jovens aprendizes no Brasil, o que representa apenas 32,4% do mínimo definido por lei. Um dado que reforça a importância do projeto de jovens aprendizes é que 80% desses jovens são absorvidos pelo mercado de trabalho, sendo que 56% passam a trabalhar na própria empresa em que foram aprendizes. Finalizando sua fala, ele abre o debate questionando: "de que forma nós, cidadãos, podemos contribuir na construção desse projeto?".
Sesóstris Vieira, coordenador de TI do Programa Interlegis, do Senado Federal, disse que a inserção dos jovens no mercado de trabalho é a forma de garantirmos o futuro do Brasil, fazendo com que os jovens tenham contato com outros círculos de pessoas. Para ele, a TI é uma área de conhecimento muito aberta, em que o jovem pode aprender robótica, programação, análises de sistemas, redes, entre outros. Ele fala que o conhecimento sobre computação é muito importante porque, "Mesmo que ele não venha a trabalhar com TI, aprender a programar cria uma forma de raciocínio e compreensão diferente".
Daniel Shim, gerente de projetos experimentais no Laboratório Hacker da Câmara dos Deputados, disse que uma forma interessante e plural de construir políticas publicas é utilizando a internet. Ele falou alguns projetos interessantes feitos pela Câmera dos Deputados, em especial o WikiLegis, uma ferramenta de construcao de textos legais colaborativa.
Paulo Roberto Miranda Meirelles é doutor em Ciência da Computação, professor e coordenador do Bacharelado em Engenharia de Software da UnB, e pesquisador-colaborador do Centro de Competência em Software Livre (CCSL) e do Núcleo de Apoio às Pesquisas em Software Livre (NAP-SOL) da USP. Ele diz que, no Brasil, a internet está aumentando a desigualdade social, porque as pessoas que têm acesso à internet são as mesmas que têm acesso a outras mídias. Em outros países está sendo inserido no currículo das escolas o que eles chamam de STEM - ciência, tecnologia, engenharia e matemática, o que ensina as crianças e adolescentes a dominar a tecnologia, aprendendo raciocínio lógico. Para ele, isso pode ser uma alternativa para diminuir a desigualdade.
"Precisamos nos apropriar da tecnologia, e o Software Livre é um meio para isso".
Fernando Luís Dotti, diretor da Facin, muitas empresas estão perdendo em força competitiva devido a lacunas na nossa educação relativas ao ensino da computação. Ele explica que a demanda por profissionais desse tipo é muito grande, e cada vez maior, no mercado de trabalho. Estudos mostram que o raciocínio computacional é um dos pilares que deve ser aprendido por crianças e adolescentes, ao lado de línguas e matemática. Ele diz que os currículos precisam ser discutidos, para que possamos introduzir o ensino de computação na educação básica e fundamental.
Vinicius Lobo, do Observatório do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego, apresentou dados sobre o mercado de trabalho de atividades de TI, que reforçam o rápido crescimento desse mercado. Ele diz que o casamento entre Software Livre e aprendizagem é emancipador para os jovens aprendizes.
Denise Brambilla, superintendente regional do trabalho no RS, fala que a aprendizagem deve ser disponível para todas as pessoas, e enfatiza a importância do programa Jovenz Aprendizes no Rio Grande do Sul, que já atendeu 55 mil jovens.
Sady Jacques explica que o FISL foi criado para ser um gerador de debate. Para ele, a pauta da utilização do Software Livre na educação é muito rica, e que prova disso é que alguns países começaram a entender a relevância dessa discussão. Jacques falou que o Marco Civil da Internet foi discutido anteriormente no FISL.
"Precisamos insistir na importância da soberania do país, da liberdade do indivíduo na rede, e isso só vai acontecer quando tivermos as pessoas de fato incluídas. A inclusão digital é uma falácia, porque apenas 10% do país está plenamente incluso".
Ele explica que, desde 2010, a ASL defende a inclusão do ensino de Ciência da Computação no ensino básico e fundamental, e isso ainda não acontece por falta de vontade política, porque dá para ser feito. Sady finaliza o debate explicando que "boa parte da cadeia produtiva de Software Livre já existe, mas falta a organização da cadeia, com políticas públicas".