Palestras do Engitec 2019 abordam impactos da tecnologia na realidade do Legislativo

Os palestrantes alertaram para a desconexão entre a velocidade da tecnologia e a adaptação do Poder Legislativo a esta nova realidade

A atuação do Legislativo diante das mudanças sociais provocadas pela tecnologia foi o tema que dominou a reta final do 11º Encontro Nacional do Gitec (Grupo Interlegis de Tecnologia), o Engitec. O evento, que teve como tema “Inovação além da tecnologia”, reuniu assessores de Tecnologia de Informação (TI) e parlamentares municipais de todo o país.

Representando o Diretor Executivo do Interlegis/ILB, Márcio Coimbra, o Coordenador-Geral, Leonardo Gadelha, falou sobre “Perspectivas para o Poder Legislativo na Era da Revolução Digital”. Gadelha afirmou que existe um paradoxo entre a velocidade imprimida pela tecnologia no cotidiano das pessoas e o ritmo de trabalho das instituições públicas. As instituições atuais não possuem um lugar garantido neste “admirável mundo novo”. Um mundo onde as pessoas fazem compras por aplicativos e recebem os produtos em casa meia hora depois.

--- O mindset do cidadão está sendo conformado para esta vida instantânea, automática. Mas o estado não responde da mesma maneira.

Ao mesmo tempo ele observa uma oportunidade no contexto da revolução digital para os parlamentos.

--- Quem, por excelência, tem que regulamentar as mudanças? Quem é o ator institucional que tem esse papel?  Com isto o parlamento pode recuperar seu protagonismo --- afirmou

A coach Wang Ching fez uma reflexão sobre a vida profissional em tempos de avanço exponencial da tecnologia. Na palestra “Pensar Disruptivo” ela pediu um exercício de reinvenção de cada um dos participantes, para se adaptar aos novos tempos do mercado profissional. A palavra disrupção, segundo o dicionário, significa a quebra ou descontinuação de um processo já estabelecido.

Como base neste significado, ela pediu aos presentes que se olhassem como um produto. E depois perguntassem a si próprios, a quem este produto se destina. Para em seguida classificar de 0 a 10 a importância deste produto na vida deste público.

---Existem alguns riscos quando pensamos em disrupção ou inovação. Como por exemplo confundir necessidades suas com as do mercado. Eu quero ser revelante, reconhecido, eu quero ser chamado para um grande projeto, mas eu não entendi o que o projeto necessita e qual o problema que ele quer resolver ---, completou Ching.

O servidor do Senado Federal, Fernando Melo, falou sobre “A Inteligência Artificial no Processamento de Textos”. Ele alertou sobre a urgência no tratamento da IA pelas instituições públicas. Na visão do palestrante nós estamos atrasados em relação ao resto do mundo. Ele fez algumas ponderações sobre o desenvolvimento da inteligência artificial no Poder Legislativo.

--- É a qualidade do dado que vai dizer qual será a qualidade da inteligência que nós vamos desenvolver. Precisamos também investir na formação de cientistas de dados. O maior risco da IA é não participar dela, e nos transformar em uma  cyber colônia --- termo cunhado pelo escritor Yuval Noah Harari, autor de “Homo Deus”.

Um caso prático de inovação no Congresso Nacional foi abordado, em palestra na sexta-feira (22), às 9h, por Luís Fernando Pires Machado e José Frederico Lyra Netto, que dividem a chefia de gabinete do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE).  Desde o início desta legislatura, em janeiro último, o senador e os deputados federais Tabata Amaral (PDT-SP) e Felipe Rigoni (PSB-ES) compartilham estrutura física e pessoal, o chamado “coworking legislativo”.

Desta forma, metade do espaço do gabinete do senador foi reservado para abrigar também assessores dos dois deputados. O que os une é o movimento social “Acredito”, à frente do qual disputaram e venceram as eleições passadas, mesmo sendo de partidos diferentes.

Luís Fernando, servidor do Senado há 25 anos, explicou que, assim como a maior parte dos servidores do gabinete compartilhado, passou por um processo seletivo de seis etapas até ser escolhido para chefiar funções administrativas.

Ele e José Frederico esclareceram que o coworking legislativo inclui práticas pouco usuais no serviço público, como o home office, no qual o colaborador presta serviços em sua casa, uma sexta-feira por mês. Outra novidade é o feedback trimestral, no qual cada um é avaliado a partir do seu desenvolvimento profissional.

— É uma experiência realmente inovadora, sobre a qual muitos disseram desde o começo que não daria certo, ou que infringiria proibições, mas que tem resultado em ganhos reais de produtividade e no fortalecimento da atividade parlamentar — argumentou José Frederico, consultor e mestre em políticas públicas, com passagem pela Secretaria de Estado de Educação de Goiás.

Mundo 4.0

De acordo com Alzira Fernanda Oliveira, presidente da mesa diretora do 11º EnGitec, o evento deste ano superou expectativas no tocante à organização e representatividade. Estiveram presentes cerca de 130 convidados, entre servidores e parlamentares de câmaras municipais, assembleias estaduais e órgãos públicos de todos os estados do país, com exceção do Espírito Santo.

— A gente procurou sair da tecnologia de balcão, de computador, e voltar o olhar para as pessoas, que é o mesmo olhar que o governo precisa dar para o cidadão agora — acentuou Alzira, que participa do EnGitec desde seu início, há 15 anos, e atualmente dirige a Escola do Legislativo da Câmara Municipal de Paracatu–MG.

Conforme Alzira, o evento promovido anualmente pelo Interlegis/ILB tem como objetivo integrar as diversas instâncias do Parlamento no país de modo que haja o compartilhamento de experiências e informações para que inovações tecnológicas sejam interligadas às rotinas do ambiente legislativo.