Especialistas avaliam que os desafios para o ensino superior pós-pandemia começam pelas desigualdades sociais

A falta de condições financeiras de muitos estudantes para arcarem com o pagamento de um provedor de internet, o que inviabiliza o acompanhamento das aulas, e a necessidade de adaptação dos conteúdos foram destacados.

17/08/2020

A falta de condições financeiras de muitos estudantes para arcarem com o pagamento de um provedor de internet, o que inviabiliza o acompanhamento das aulas, e a necessidade de adaptação dos conteúdos foram destacados.

 

O Interlegis realizou, nessa quinta-feira (13), o Webinar “Poder Legislativo e Desafios do Ensino Superior Pós-Pandemia”, que reuniu especialistas em política, educação e comunicação para debater sobre o atual cenário educacional do Brasil e o pós-pandemia. O evento foi transmitido ao vivo pelos canais do Interlegis e da TV Senado no Youtube e pelo portal e-Cidadania, no site do Senado.

O Diretor Executivo do Interlegis, Márcio Coimbra, abriu o evento solidarizando-se com as famílias das mais de cem mil vítimas de Covid-19 no Brasil. Ele ressaltou que, no ensino superior, os efeitos negativos causados pela pandemia, como o aumento da evasão, são alarmantes.

“Sabemos que as universidades públicas e privadas estão entre os setores que mais sofrem com o impacto da pandemia do Covid-19, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro”, alertou.

Coimbra ressaltou a necessidade de adaptação para o ensino virtual com o uso de ferramentas tecnológicas que possam fazer a diferença na prática docente e destacou o trabalho feito pelo Interlegis para atender as demandas do público neste período.

“O Senado Federal, por meio do Interlegis, responsável pela capacitação e modernização do Legislativo brasileiro, também adaptou seus produtos e serviços para essa nova realidade. As oficinas de capacitação e os cursos superiores, antes presenciais, agora são on-line”, concluiu Márcio Coimbra.

O Webinar contou com a participação da deputada federal Professora Dorinha (DEM-TO), da doutora em educação e diretora pedagógica, Maria Inês Fini, do diretor da TV Senado, Érico da Silveira, e do consultor legislativo do Senado e professor de ensino superior do Interlegis, Rafael Silveira e Silva.

O Coordenador de Educação Superior do Interlegis, Floriano Filho, foi o mediador do debate, que abordou as preocupações e oportunidades que surgiram com a necessidade de migração do ensino para plataformas e ambientes virtuais.

Em sua fala, a deputada Dorinha apontou que o Ministério da Educação (MEC) deve ser o principal agente das mudanças necessárias.

“A maior necessidade hoje é que o MEC assuma a condução, junto aos estados e municípios, para que sejam definidos protocolos de volta às aulas e que as instituições públicas e privadas recebam orientação sobre como lidar com esse novo momento”, enfatizou a deputada.

Mesmo com os obstáculos impostos pela pandemia, os palestrantes concordaram que 2020 não deve ser visto como um ano perdido. Para a pedagoga Maria Inês Fini, o ensino passou a valer-se de ferramentas tecnológicas e métodos inovadores que não devem ser descartados.

“Não podemos olhar para o presente e futuro com os olhos do passado. É necessário compreender o que estamos vivendo. Muita coisa boa foi realizada e não podemos permitir que sejam descontinuadas”, afirmou Maria Inês.

 

Missão educativa da comunicação

Para o diretor da TV Senado,Érico da Silveira, a comunicação tem sido indispensável neste período de isolamento social. Segundo ele, os educadores devem utilizar formatos e discursos mais chamativos para atrair a atenção dos alunos para o conteúdo ensinado à distância.

“Temos vários modelos que funcionam na interação virtual, como os utilizados por Youtubers, o formato de entrevista, como um talk show. É preciso que os professores conheçam as ferramentas que podem tornar o ensino virtual mais interessante”, ressaltou Érico.

Ele lembrou, ainda,que o momento é oportuno para fortalecer o caráter educativo da comunicação pública.

“O conceito de comunicação pública como missão educativa ficou adormecido por muito tempo, ocupando espaço apenas na área de entretenimento. A inglesa BBC e a brasileira TV Cultura, por exemplo, foram criadas como emissoras educativas. Agora, temos a possibilidade de retomar essa função”, explicou.

Desigualdade social

Os palestrantes apontaram a desigualdade social como fator determinante para que o ensino à distância não tenha a qualidade e eficácia necessárias no Brasil. A deputada Dorinha ressaltou que a falta de orientação para os professores gera insegurança e prejudica diretamente os estudantes de classes menos favorecidas.

“O fato de o aluno ter um celular em casa não significa que ele tenha condições de realizar um trabalho, tampouco que está conseguindo acompanhar as atividades. Muitas famílias não têm como arcar com o custo de um provedor de internet”, destacou.

O fator psicológico, independentemente da condição social, também foi levado em consideração. O professor do Interlegis, Rafael Silva,falou sobre a importância de se buscar alternativas para diminuir a perda no interesse pelas aulas, tanto do estudante quanto do professor. De acordo com ele, o momento atual é tenso e afeta o equilíbrio emocional das pessoas.

“O grande desafio é descobrir novas alternativas para que professores e estudantes tenham condições de conciliaras incertezas e dificuldades que estamos passando com a continuidade das aulas. Sabemos que muitas pessoas perderam seus empregos e estão sem condições de pagar as mensalidades da escola dos filhos ou do seu curso superior.No entanto, mesmo diante de um cenário estressante, o vínculo com a escola deve ser mantido”, refletiu o educador.

Ao final, o mediador Floriano Filho enalteceu a qualidade do debate que resultou em alguns compromissos e metas para o ensino superior.

“O webinar do Interlegis expôs vários problemas no setor e apontou possíveis rumos para melhoria com participação efetiva do Poder Legislativo. Além disso, gerou resultados concretos como o compromisso de uma cobertura ainda mais ampla das políticas educacionais por parte dos veículos de comunicação do Legislativo”, revelou Floriano.

Para assistir o webinar na íntegra, clique aqui.