Especialistas propõem refundação do modelo educacional no Brasil em Webinar do Interlegis sobre educação em tempos de pandemia

Segundo especialistas das área de educação e tecnologia, mesmo antes da pandemia de Covid-19, o modelo de aulas das escolas brasileiras já estava inadequado e precisa ser reconfigurado.

30/11/2020

A pandemia e o isolamento social, imposto como medida preventiva à Covid-19, trouxe um novo desafio para a educação no Brasil: a adaptação de professores e alunos ao ensino remoto. Para abordar esse tema, o Interlegis realizou, na última sexta-feira (27), o Webinar “Educação digital em tempos de pandemia”, que contou com a participação dos senadores Confúcio Moura (MDB-RO) e Izalci Lucas (PSDB-DF), e do ex-senador e professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), Cristovan Buarque.

O debate reuniu ainda os especialistas Floriano Filho, coordenador de Educação Superior do Interlegis/ILB; Maria Inês Fini, criadora do Enem e Presidente da Associação Nacional de Educação Básica Híbrida (ANEBHI); Carlos Lenuzza, diretor de Educação Básica e a Distância da CAPES (Ministério da Educação); e Rui Gonçalves, gerente de Relações Institucionais da Quero Educação. A mediação foi da jornalista Renata Gonzaga.

O senador Confúcio Moura, presidente da Comissão Mista da Covid-19, abriu o Webinar destacando a necessidade de recriar o modelo educacional neste momento em que o país enfrenta uma grande crise na educação, causada pela interrupção das aulas presenciais e agravada com a dificuldade de acesso ao ensino virtual para alunos de escolas públicas.

- O cenário da educação digital é o principal assunto a ser discutido no momento vivido. A pandemia veio como um desastre da própria natureza, mas, por meio da tecnologia, podemos enxergar uma oportunidade para reestruturar a educação brasileira, que não já não ia bem. É o momento de refundação e união – expressou o senador.

Cristovam Buarque usou uma analogia ao teatro e ao cinema para falar sobre a refundação do modelo educacional abordada pelo senador Confúcio Moura.

- Já estava na hora de pensar outra maneira de fazer aula. Estamos saindo do tempo da aula teatral, onde o professor fica na frente do aluno com o giz, para a época da aula cinematográfica, em que o professor faz o roteiro, como um diretor de cinema, com elementos que vão atrair e prender à atenção dos alunos. Esse é o recomeço que almejamos e, para tê-lo, será necessário reiniciar todo o sistema – refletiu.

Seguindo na mesma linha, Floriano Filho falou sobre as desigualdades presentes no sistema educacional brasileiro, que ficaram ainda mais evidentes com a pandemia.

- Eu usaria até a palavra drama: o drama da educação brasileira. A situação é desoladora e nos mostra o tamanho da desmotivação de alunos e professores e da desconexão também, tendo em vista a falta de acesso à internet e aos equipamentos tecnológicos – alertou.

Para a professora Maria Inês Fini, a tecnologia possibilita recursos educacionais para se trabalhar no ensino complementar e repor as aulas perdidas durante os meses de suspensão por conta da pandemia.

- Nós teremos que planejar para 2021 e 2022 uma tarefa diferenciada com o objetivo de repor as atividades que faltaram para nossas crianças e jovens. Essa é a tarefa da escola, nós somos os profissionais da educação, nós temos que saber fazer isso. Não é o caso de anular o ano de 2020, e sim investir em um currículo de transição – alertou.

As formas de repor o conteúdo das atividades, mencionadas pela professora Maria Inês, aplicam-se à metodologia de ensino híbrido, que promove uma mistura entre o ensino presencial e propostas de ensino online. De acordo com o jornalista Rui Gonçalves, criador do Manifesto Internet pela Educação, essa é uma possibilidade cabível, desde que subsídios tecnológicos sejam oferecidos para quem ainda não possui.

- Vamos precisar encontrar alternativas para inserir os estudantes, sejam da educação básica ou da superior, que estão excluídos do processo de educação pela falta de internet. Não é difícil fazer, basta iniciar o debate e reunir as pessoas que efetivamente podem atuar na disponibilização desses recursos – disse Rui.

Já para Carlos Lenuzza, diretor de Educação Básica e a Distância da CAPES/MEC, a baixa qualidade da formação dos futuros professores é um dos entraves para a melhoria na educação.

- Como preparar os nossos educadores para entrar na discussão do ensino e aprendizagem, sendo que 50% dos professores de ciências da natureza, por exemplo, sequer são formados na licenciatura em que atuam. O professor tem que ser o grande investimento do governo brasileiro – pontuou.

O senador Izalci Lucas destacou que na última semana, o Senado aprovou o projeto de lei que atualiza a legislação do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust), para permitir que as políticas governamentais de telecomunicações sejam financiadas por esse fundo.

Com a mudança, o Fust poderá ser usado para expansão, uso e melhoria da qualidade das redes e dos serviços de telecomunicações, além da redução das desigualdades regionais em telecomunicações. Para o senador Izalci, que é presidente da Frente Parlamentar Mista de Ciência, Tecnologia e Inovação, isso representa um grande avanço, em meio à pandemia.

- Nos últimos dois meses, lutamos pela aprovação desse projeto, que poderia durar anos para ser incluído na pauta. Eu espero que possamos, imediatamente, ofertar banda larga nas escolas. Temos que rever agora a questão da capacitação e da infraestrutura nas escolas e dar condições para que o cidadão tenha acesso ao celular, computador e banda larga, porque isso já está integrado na vida de todos, atualmente – afirmou.

Como anfitrião do Webinar, o diretor-executivo do Interlegis, Márcio Coimbra, avaliou positivamente o debate, que resultou no compromisso dos participantes de trabalharem nas ideias que surgiram para a elaboração de um projeto de lei, que será apresentado pelo senador Izalci Lucas.

- Não poderia estar mais satisfeito com esse resultado. O Interlegis, como “Think tank” do Senado Federal, trabalha para impulsionar o debate de ideias e produção de discussões de temas relevantes para o desenvolvimento do Brasil. O investimento em educação é essencial para o crescimento do nosso país e para a redução das desigualdades sociais. Debates como o de hoje nos dão a certeza de que estamos construindo um futuro melhor – concluiu Coimbra.

A transmissão foi realizada pela TV Senado, e-Cidadania e canal do Interlegis no Youtube. Para acompanhar a íntegra do evento, clique aqui.